sábado, 18 de janeiro de 2014

Há de ser por pele?
Ou por toque?
Há, quem sabe, de ser
De só saber
Qual o tamanho de viver?

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O Relógio.

Que horas? Me pergunto calado. Ouço os segundos, sinto o gosto das horas.
É essa estagnação mórbida que encontrou seu ninho em minhas entranhas e pensamentos. Como parasita hediondo, como manifestação espectral, como nuvem negra de tempestade.
E as horas, as que vejo e ouço, soam como uma rápida melodia, atropeladas, atravessadas, altas e inconstantes. Caminho ao longo da casa, sem paradeiro, e minha alma sem pouso caminha dentro de mim. O relógio na parede me assusta! Já são seis? Já são oito? Ponho a culpa no verão. As nuances das cortinas a esvoaçar, os sonhos bobos, os programas de televisão, todos são tão inúteis quanto o meu espanto ao observar o caminhar das horas. O que há além dessa aflição? Uma garoa cai, agora, enquanto me questiono, a terra fica perfumada. É um alívio esse perfume adocicado, é um bálsamo, uma catarse! Daí o relógio bate suas cruéis badaladas, me sobressalto e todo cenário se esvai como um castelo de cartas. Devo partir, mas para onde? Devo correr, mas com que pernas? Devo fugir...
Atrevo-me a comparar minha sina a outro qualquer, entristeço-me em perceber que meus versos sinceros, não terão nunca  a qualidade dos versos de meus amigos. E a sombra do relógio me persegue, e a zombaria das badaladas, e as horas, as horas, as horas! No meu pulso há outro relógio, quase imperceptível, gasto de tanto se encarar. Contando horas ao contrário, como uma contagem regressiva. Nele há uma pequena frase apagada, a não ser pela última palavra: "motivo". Um motivo? Algo que possa me motivar? Mas os ponteiros andam lentos (ao contrário do relógio da parede)  e minha agonia se dobra! Em loucura, quebro os móveis, as louças, as hora e segundos. E percebo que a palavra "motivo" era tudo que me motivava! Eu, pobre homem fraco e sujeito às vicissitudes do tempo imoral que vivemos, sou motivado pela busca de um motivo! Patético e incoerente, sou eu, o meu próprio não ser. Ser incompleto, imperfeito, irreal. Motivado pelo buscar uma Motivação. Uma singularidade no tempo-espaço, um rasgo no tecido da realidade.

Era eu, sempre fui eu, o relógio na parede e o relógio no pulso.