domingo, 25 de maio de 2014

Amor não é chama
Ou cama.
É ferida que inflama
Cicatriz que se escama
Sangue que se derrama
Amor, meu amor, amor
É terror! Ternura insana!
Amor é honra manchada
Espada fincada, juramentada
Banhada em Vingança.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

E neste azul cansado, meu ser feliz
Desesperadamente em verso óbvio
Descreve o que em mim se contradiz
Estando eu, absurdamente sóbrio!

Pois a sobriedade em mim não cabe
Estando imerso nesta vastidão
O mar, a luz, o vento que se abre
Em ondas, emulando um coração.

Pois, para mim, esse azul é breve!
É meu até que a escuna me leve!
Retorno ao lar, um pouco menos feliz.

Mas nem a sobriedade me esmorece!
Corro contra a fadiga que me desce
E pinto de azul minha raiz.



sábado, 17 de maio de 2014

13 de Maio.


 Aos pretos, encouraçados, calejados
Com seus deuses, semi-formados
Com seus terreiros sujos, profanados
Fica decretado desde então:
O Samba não é religião.
Maracatu, frevo, coco, carnaval
Capoeira, forró, Acarajé, vatapá
Aguardente, Baião, Jazz, Blues
Tudo que foi tocado por vossos dedos
Tudo que os Intelectos negros
Ousaram conceber!
Será extirpado, execrado, rasurado
Obliterado! Hão de esquecer!
Afim de que o Brasil se transforme em filial
Da Gloriosa Igreja Universal!


sábado, 10 de maio de 2014

Guerra Santa.

Eu sou a favor da guerra
Aguerrida, de batidas
Performáticas feridas
Estratégias escondidas
Segredo que se berra.

Amo o que se ferra
Quando erra, amo a fera
Amo ódio, a porrada doída
O Aveso que nos revira
O estômago,
O âmago, a essência moída.

Amo a depressão e a deprimida
O azarão, cavalo de corrida.
Má colocação, despedida.
Amo essa guerra abençoada
Maldita!

Amo os generais genocidas
Intrigas internacionais, pátrias postiças
Veneno de rato, pesticidas

Todo lixo podre que venho Juntando
Antes de tudo, digo de coração
Antes um dia de Lobão
Do que mil anos de Caetano

Não há Muro para ficar encima
não há mais nada para sustentar a rima
Só urina, merda, cheiro de latrina
Só rancor e sarcasmo, erguem minha lira

Tusso, tosse seca, rouquidão
Passo mal, ao [a] normal vou voltando
Antes escolhesse um dia de Caetano
Do quê um milênio de Lobão.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Estou no Hades. Vocês me enxergam.Eu sei.
Daqui, não me calo, nem maldigo. Aceno devolta, condescendência. Deferência estúpida.
Pondo-se, o sol alaranjado pinta o horizonte com a mesma cor de sempre. Inútil descrever, todos sabem. Eu sei que estou sonhando. Não sou tão estúpido assim. Eu conheço esses terrenos. Eu sonhei a vida toda. Essa vastidão desperdiçada. Essa força nuclear, perpétua, imponderável, não movimenta sequer um cata-vento. Estou preso num limbo, um purgatório. E nesse Hades eu sonho. Não porque quero sonhar, e sim por que não me resta outra coisa. Tento mandar mensagens para os meus vivos, mas eles não ouvem. Então aceno. Estou meio vivo e meio morto. Sou uma aberração quântica de Schrödinger. Não há na terra quem me ouça? Um falso médium? Um Profeta?
O que eu diria? Eu não sei. Pediria ajuda? Amaldiçoaria Deus e os seus setenta e sete mil anjos? Eu pediria perdão? Meus pecados são menos inocentes do que antes, mas ainda sim são inocentes. Não.
Não me ouçam mais. Sou só mais uma alma amargurada, com moscas nos olhos. Deito-me na fria pedra. E sonho com ilhas e barcos, lindas mulheres e gigantes marítimos. É o que me resta. É o que me basta.