sexta-feira, 31 de maio de 2013

Floresta Miranda, Floresta.

Doce tempo escuro
Na boca, sabor metálico
Nas vistas, vermelho-barro
No fundo, rostos conhecidos
Em mim, versos esquecidos
Aplausos
Sorriso largo, risadas fáceis
Azul desbotado
Na profusão estranha de cores de ontem
Encontrei-me com Pena
E o seu azul, ele diria:
Me desbotaria.

Ferrão

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A Solidão e Sua Porta


 Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)
Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

Arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.



Carlos Pena Filho

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Joaquim

A Babilônia comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
A Babilônia comeu João Cabral, Drummond, Guimarães, e Quintana
A Babilônia me ensinou inglês, me fez pintar o céu de azul, só azul
A Babilônia me pegou muito cedo, e me ensinou a trabalhar
Faminta, a Babilônia devorou minha paciência, minhas prioridades, minha auto-esclerose
Jantou na casa dos meus pais certa vez, e sugeriu que eu fizesse faculdade
Sem fastio, devorou meus sarais, meus joelhos e colunas
Meus sonetos, meus dedos e olhos
Meus haikais e meus pés
Minha esperança no amor
Minha fé
Não satisfeita, cuspiu os meus nervos e me jogou os ossos
Tentei fugir da voragem
Ela drenou os canais, os rios, os mares
Comeu os caminhos, comeu os atalhos
Quando satisfeita do banquete, apertou as últimas veredas num guardanapo e as fumou.

(Ferrão)

domingo, 19 de maio de 2013

Poética da Intorpecência


- Foi Dito que somos pó, meu amor.
E ao pó retornaremos
antes disso, cheiremo-nos!
Garçom,dois canudos por favor!


(Ferrão)


Carnage.


Quando talvez em sonho
Sonharmos com nossa casa de janelas grandes
onde possamos ver a chuva
Onde não seríamos nós, cansados der ser nós....

Se houvesse mais paixão onde antes existia o amor
Talvez as janelas fossem reais, a chuva fosse real...

Tudo é irreal, mesquinho e azedo.
E chuva inexistente, inexplicável
Cai insistentemente nesse verão...

Vou, talvez, quem sabe, procurar outra irrealidade
Amor não, paixão não, talvez alguma vontade de não passar
o carnaval sozinho
 
(Ferrão)