quinta-feira, 23 de maio de 2013

Joaquim

A Babilônia comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
A Babilônia comeu João Cabral, Drummond, Guimarães, e Quintana
A Babilônia me ensinou inglês, me fez pintar o céu de azul, só azul
A Babilônia me pegou muito cedo, e me ensinou a trabalhar
Faminta, a Babilônia devorou minha paciência, minhas prioridades, minha auto-esclerose
Jantou na casa dos meus pais certa vez, e sugeriu que eu fizesse faculdade
Sem fastio, devorou meus sarais, meus joelhos e colunas
Meus sonetos, meus dedos e olhos
Meus haikais e meus pés
Minha esperança no amor
Minha fé
Não satisfeita, cuspiu os meus nervos e me jogou os ossos
Tentei fugir da voragem
Ela drenou os canais, os rios, os mares
Comeu os caminhos, comeu os atalhos
Quando satisfeita do banquete, apertou as últimas veredas num guardanapo e as fumou.

(Ferrão)

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